Ayahuasca é um chá milenar sagrado, proibido por lei, com um horrível sabor, tomado desde o começo do sec. XX em cerimónias dedicadas ao Santo Daime no Brasil (manifestação religiosa surgida no Amazona) com vista à cura, perdão e regeneração do ser. Geralmente é administrada sob a orientação de um xamã.
Com a sua origem na América do sul, tradicionalmente usada por índios do Amazona, tem sido ultimamente muito propagada pela Europa. Há diversas receitas mas é sempre constituída por dois elementos básicos: DMT (dimethrltryptamina) e MAO, um inibidor (monoamine-oxidase).
O DMT está em toda a parte, tanto em animais como nas plantas, mas ingerido, é facilmente neutralizado pelo nosso organismo. Daí só funcionar com o inibidor MAO que possui enzimas que impedem essa destruição imediata deixando assim o DMT produzir os seus efeitos.
DMT é altamente psicadélico. Pode levar a experiências que as pessoas consideram de ordem espiritual sendo, por isso, considerada como a molécula sagrada. Aliás, Ayahuasca só é considerada droga pela sociedade vigente, punindo-a por lei. Para os seus utilizadores é um remédio que tem por fim o equilíbrio, a saúde, o desabrochar do ser humano em toda a sua plenitude. Têm tido lugar diversas investigações cientificas à volta de DMT que prometem não só uma maior compreensão nos mecanismos da perceção e da consciência, como muito provavelmente se estão abrindo novas possibilidades para o seu uso em neurofarrmacologia.
Os rituais Ayahuasca, considerada esta como plante medicinal, são precedidos de todo um processo de preparação física e psicológica onde tem lugar uma forte intenção de cura e transformação; há muita música e cânticos religiosos. São considerados como efeitos principais o aumento da acuidade da perceção, visões e alucinações do “inferno” ou “paradisíacas”, contactos com seres espirituais, lembranças do passado e regressões, saída do corpo, experiência da morte, cura de vícios e depressões, resolução de problemas, ideias criativas inovadoras, projeções no futuro, decisões para a vida que levam a grandes transformações, entre outros. Cada pessoa tem a sua experiência particular.
Sobre riscos, parece-me difícil distinguir quais os verdadeiros riscos dos preconceitos. De qualquer forma parece não ser viciante, pelo contrário, e há que ter em conta os perigos do seu uso em pessoas com histórico psicótico como esquizofrenia, transtorno bipolar e depressão psicótica, assim como possíveis efeitos colaterais quando tomado em combinação com anti depressivos e alguns alimentos como queijo, por exemplo.
Dois dos momentos mais marcantes na minha vida tiveram precisamente lugar sob o efeito de Ayahuasca. O primeiro foi feito de uma espécie de dor e pânico que as palavras não podem descrever. Todo o universo apresentou-se-me feito de espirais dentro de espirais, um carrossel vertiginoso onde eu girava com o estômago às voltas, vomitando, sem ar, tentando desesperadamente sair dessa infernal máquina que é o mundo onde eu estava amarrado tentando desesperadamente soltar-me para a liberdade. Nunca na minha vida me senti tão consciente de uma situação. Enquanto isso acontecia, eu sentia os meus pensamentos de uma clareza impressionante. Eu estava absolutamente consciente de que tudo o que eu via, ouvia e sentia eram só pensamentos os quais correspondiam a uma espiral, um carrossel à velocidade da luz. A libertação só teria lugar quando eu tivesse absolutamente ciente que a consciência que estava a ter era também ela apenas feita só de pensamentos, um novo carrossel dentro do primeiro carrossel. E isto mesmo que acabara de pensar era, por sua vez, mais um carrossel, mais uma espiral dentro das outras espirais. Só a transcendência do pensamento poderia significar a paragem do carrossel o que era também um pensamento, prosseguindo nesta luta até ao infinito. E assim se perpetua de geração a geração o pesadelo existencial, não compreendido aqui com a mente racional, mas sim traduzido no corpo em forma de suor, pânico e vómitos.
Ao despertar, quer dizer, ao voltar à ilusão do dia, a solução tornou-se muito clara. Quando fechei os olhos, na noite seguinte, abri-me para o que surgisse, fosse ou não um novo inferno. E assim se abriu o universo em espirais de luz. Se as palavras não descrevem a noite anterior, esta então é mesmo impossível de relatar. Cúpulas de maravilha feitas de transparência abriam-se umas nas outras para revelar ondas de contentamento fluindo dentro do meu corpo e revelando a “verdadeira natureza” (?) do Ser.
Qual o significado desta experiência para mim? Ayahuasca, esta medicina milenar, é um dos muitos meios à nossa disposição na chamada “jornada do herói”: Quem sou? O que é o mundo? O que é a realidade? O que ando cá a fazer? Como realizar quem verdadeiramente sou?
Neste caso trata-se de um meio ilegal. Ayahuasca é proibida para proteção da nossa saúde física e mental numa sociedade que, à medida que se desenvolve, mais cresce a depressão e ansiedade, burhout, síndrome de pânico, obesidade e transtornos alimentares, diabetes, demência, cancro, HIV, insuficiência cardíaca, lesões e doenças fatais no trabalho e por aí fora.