Comunicação Carismática
Todos temos geralmente uma ideia do que se trata quando se fala de “carisma”. É um substantivo abstrato multi-interpretável, um “nominalismo” como se diz em Programação NeuroLinguística. É fácil fazer associações a esta palavra. Surgem-nos conceitos como atração, capacidade para influenciar e seduzir multidões, fascinação por alguém…
O “Kharisma” é definido nos dicionários como um dom, uma graça, um favor, presente divino, uma prenda. Fala-se de um magnetismo pessoal ligado ao conceito de energia. Numa pessoa carismática vivenciamos a experiência subjetiva de uma espécie de presença centrada e verdadeira que emana graciosidade, suscita devoção, entusiasmo e entrega. Tem um grande efeito nos outros: é inspirador, motivador, desperta o melhor que há em nós. É como se possuísse essa “energia invisível que nos toca”.
O termo foi usado no Cristianismo para indicar diversos dons espirituais concedidos a alguém pelo Espírito Santo para o bem dos homens e para as necessidades do mundo e, em particular, claro, para a edificação da Igreja.
Hoje em dia, é comum partir-se do princípio de que o carisma é algo que pode ser estudado e que as competências carismáticas podem ser aprendidas.
Também se associa o carisma ao seu mau uso por figuras que têm contribuído para criação de dependência e destruição. Certamente que estas pessoas possuem competências de comunicação capazes de levar ao engajamento de massas, mas a pergunta é se este tipo de personalidades e ações se enquadram na definição de carisma.

O carisma é o oposto a truques. É o oposto a comédia e falsidade, arrogância, esforço, superioridade, querer parecer bem e impressionar os outros; é o oposto a apresentações em público usando truques de influência, sedução e oratória superficial…
A liderança e o carisma
Uma empresa, qualquer organização, um país, mas também uma família, todos necessitam de ter bons líderes. E não é possível ser um bom líder sem possuir importantes traços carismáticos. É impossível liderar sem os elementos básicos de liderança, que são, eles mesmos, a essência da comunicação carismática.
Por exemplo:
- Ter uma visão sobre um futuro mundo de que os “habitantes se orgulhem de pertencer” (Dilts);
- realizar a sua missão influenciando-se e influenciando os outros na direção de um objetivo ecológico e atraente que contribua para o bem comum;
- encorajar o funcionamento cooperativo, inspirador e inovador de equipas;
- e, finalmente, ser um exemplo para aquilo que apregoa e estar empenhado num processo de autoconhecimento e auto desenvolvimento contínuo.
Numa sociedade cada vez mais stressada e em constante transformação, muitas vezes caótica, com um crescente grau de exigência, competitiva, injusta, provocando na natureza, a nível planetário, um crescente desequilíbrio, qualquer um de nós tem também uma necessidade intrínseca de auto liderança para poder dar os passos adequados para realizar o propósito da sua vida e encontrar a sua felicidade.
Robert Dilts, uma das figuras que talvez mais tenha contribuído para o desenvolvimento da PNL, estudou e concebeu novas estratégias a partir de génios como Einstein e Disney. No que respeita ao carisma, trouxe para a PNL novos conhecimentos e práticas advindas, entre outras origens, do estudo de Mandela, Steve Jobs e Martin Luther King Jr.

Para perceber melhor esta abordagem do carisma e da comunicação carismática, utilizaremos um dos modelos mais empregues em PNL: os níveis (neuro)lógicos de comunicação introduzidos pelo próprio Dilts. Este modelo fala-nos de patamares de aprendizagem, comunicação e transformação

- O primeiro nível refere-se à estrutura condicionante das nossas vidas, o “mundo exterior” e concreto que nos rodeia, e onde podemos ver tanto possibilidades como ameaças, dependendo, como é costume dizer-se em PNL, de uma perspetiva “limitadora” ou “ilimitada”.
- O segundo nível representa o “comportamento”, as nossas ações e o que produzimos. Tanto podemos agir no mundo de forma proativa e criativa, como em forma de piloto automático reativo, lutando, fugindo, ficando paralisados ou desistindo.
- Toda a ação está sujeita ao uso de “capacidades, habilidades, talentos, competências”. Podemos realizar as coisas usando ”força bruta” como resultado exclusivo de estratégias racionais, lógicas, analíticas; ou podemos, por outro lado, utilizar harmoniosamente as nossas energias de forma adequada, através do uso da inteligência emocional.
- As nossas fronteiras, a permissão que nos damos a nós mesmos e a nossa motivação correspondem ao nível neurológico dos “valores e convicções”. Neste modelo dos níveis neurológicos de comunicação, qualquer nível superior tem um grau de informação e complexidade que abrange os níveis inferiores. Podemos aprender as competências que aprendermos, mas se não forem orientadas pelos nossos valores e pelas nossas crenças, essas competências não funcionarão ou certamente não serão utilizadas de forma ótima.
- Ao nível da “identidade e da espiritualidade” falamos, segundo Dilts e Gilligan, de dois caminhos respeitantes à forma como preenchemos e damos significado à vida: o “Ego” e a “Alma”. O termo “Ego” está direcionado para a sobrevivência, manifesta-se por necessidade de controlo, caracteriza-se por Ambição e Benefício Pessoal, e está concentrado no seu Papel Social, reagindo automaticamente a um mundo em que pressente constantemente ameaças e perigos. O termo “Alma” pode muito bem ser substituído por termos como “Eu superior”, “Cerne”, “Self”… ou como lhe queiram chamar. Esta “alma” referida aqui não é uma “coisa”, não é uma “entidade” material ou espiritual. O termo é usado metaforicamente para exprimir uma experiência subjetiva, a sensação de conexão ao mais essencial e verdadeiro em nós e à nossa relação com o mundo. Caracteriza-se por contributo, serviço, inovação, e é expresso por um sentido de Missão ao serviço de um Propósito, quer dizer, uma Visão sobre um mundo melhor.
A partir destes conceitos podemos agora situar facilmente a personalidade carismática: está conectada à sua verdade, exprimindo a sua Missão (“Identidade”) para realizar algo que nunca existiu anteriormente, contribuindo para a realização de uma nova Visão do mundo de que todos beneficiarão (“Espiritualidade”).
O processo de desenvolvimento de carisma começa pela tomada de consciência da Missão: o que ando cá a fazer? O que dá sentido profundo à minha vida?
Quando se fala desta temática sobre a busca de sentido, aparece muitas vezes o conceito “apelo”, mais uma vez um conceito metafórico que tem como objetivo exprimir a experiência subjetiva de um desejo escondido de “despertar” para uma realidade plena de significado. Se estivermos em estado de nos ouvirmos, podemos seguir esse apelo ou negá-lo.
Seguir o “apelo” é conhecido em diversas culturas como “A Viagem do Herói” (O Herói de Mil Faces, Joseph Campbell). É uma viagem em que ultrapassamos as limitações correntes para atingir um nível de consciência superior e contribuir para uma fase de maior qualidade no mundo. O “herói” é a metáfora usada para ilustrar aquele que se lança num caminho sem olhar para o seu benefício imediato e que se distingue do “campeão”, cujo estatuto se ergue à custa da derrota do outro.

Para o herói, a seguinte pergunta é central: – Quem sou verdadeiramente e qual a minha contribuição? Claro que o que se pretende não tem como objetivo ficar naquilo que chamam um estado Zen. Trata-se, sim, de encontrar harmonia entre a nossa Visão do mundo, a nossa Missão ao serviço dessa Visão, a nossa Ambição Pessoal nessa realização e o Papel Social concreto a desempenhar.
COACH e CRASH
No fundo, continuando aqui a utilizar conceitos de PNL chamados de 3ª geração, só temos duas alternativas: ou “Coach” ou “Crash“.
Coach é uusado no sentido de COACH com letra maiúscula, tal como é definido no Coaching Generativo (Dilts e Gilligan). Para perceber melhor o que se entende por Coach com C maiúsculo segue-se uma descrição geral dos diversos tipos de intervenção em coaching para operar transformações:
- Aos diversos “níveis (neuro)lógicos corresponde um determinado tipo de acompanhamento com ferramentas próprias para cada nível. O conhecimento das condições materiais e do melhor caminho exige um tipo de coaching com as características de um “guia”.
- A aprendizagem de novos comportamentos é feita por um “coach” no sentido tradicional da palavra.
- Competências são ensinadas por um “professor ou instrutor”.
- A motivação e o encorajamento ocorre ao nível dos valores e das crenças e são estimulados por um “mentor”.
- Apoio ao nível de identidade, alguém que nos veja e nos escute tal como somos realmente, como pessoas totalmente OK, com direito ao nosso lugar e merecedores de estar aqui, esse apoio é dado pelo “sponsor”.
- Aquele que desperta os outros para a sua Missão no mundo, conexão e serviço a um sistema maior é o que chamamos “COACH com C maiúsculo”.
- A personalidade carismática é um COACH com C maiúsculo (Awaker) e, como tal, engloba e transcende todas as outras formas de coaching.
As características atribuídas a um estado de Coach são:
- C entered (Centrado)
- O pen (Aberto)
- A ttending with Awareness (Alerta, consciente)
- C onnected (Conectado)
- H olding (Hospitaleiro, acolhedor)
Desde que não nos encontremos num estado de Coach, experienciamos, em maior ou menor grau, um estado de Crash, tensão, stress, em que não há inspiração e reagimos automaticamente ao mundo repetindo mais do mesmo. Caracteriza-se por:
- C ontraction (Contração)
- R eaction (Reatividade)
- A nalysis (Análise)
- S eparation (Separação)
- H urt (Dor, ferida, sofrimento, ofensa)
A relação entre Nós e o mundo e o nosso comportamento
O modelo de comunicação que está na base de toda a epistemologia de NL fala da relação entre o mundo, a interpretação do mundo e a expressão. Entre o mundo e a nossa representação do mundo, há filtros. Entre a nossa representação do mundo e a nossa expressão no mundo, também estão presentes o mesmo tipo de filtros.
Há três espécies de filtros que deformam a informação e influenciam a nossa interpretação do mundo e a interpretação que fazemos de nós mesmos:

- Os filtros cognitivos, que têm a ver com crenças, modelos mentais, regras, interpretações, linguagem …
- Os filtros somáticos, que se referem ao estado do corpo, às emoções, postura, movimentos, instinto, energia…
- Os filtros do campo, que são o resultado da cultura, da família, da profissão, do domínio social…
Se estamos inconscientes de todo este processo, podemos facilmente reagir ao mundo na forma de piloto automático, ao sabor das nossas crenças, valores arbitrários, emoções resultantes de memórias, muitas delas por vezes de caráter traumático, procurando desesperadamente prazer ou fugindo à dor, a maior parte do tempo sem termos a mínima consciência disso. Vivemos então no passado ou no futuro, incapacitados de experienciar o aqui e agora. Crash tornou-se, em maior ou menor grau, a nossa maneira normal de sobrevivência como resultado do apego ao conteúdo, muitas vezes limitador, dos nossos filtros (linguagem, valores, crenças, memórias, emoções…).
As competências carismáticas
A modelagem de pessoas carismáticas trouxe à luz algumas competências fundamentais que podem ser desenvolvidas com técnicas apropriadas:
- Tomada de consciência do processo de funcionamento da mente e sobretudo o desenvolvimento da sensibilidade para escutar o “apelo”, o qual sentimos como uma verdade de nível mais profunda; consciência plena da nossa missão como contribuição para realizar a nossa visão de um mundo melhor.
- A autoconsciência de nós, do nosso corpo e do nosso “centro”. É através do que sentimos como sendo o nosso centro cinestésico que, de uma forma alinhada e congruente, nos conectamos a nós e ao campo relacional.
- A tomada de consciência de um “despertar”, que tem a ver com a experiência subjetiva de uma conexão que está para além do ego.
- A ligação ao nosso “dom” pessoal, que é uma experiência interna de uma ligação a uma energia única e especial invisível em nós.
- A calibragem, desenvolvimento e autogestão desta energia carismática que tem como fim fazer emergir a melhor versão de nós mesmos.
- Um processo de autoconsciência e auto desenvolvimento contínuo.
- Comunicar a partir do nosso centro, exprimindo a realização prática da nossa missão e ajudando os outros a manifestarem a melhor versão deles mesmos.
Para o desenvolvimento destas competências, como vamos ver a seguir, foi desenvolvido pela chamada PNL de 3ª geração, todo um conjunto de ferramentas adequadas.
O desenvolvimento das competências carismáticas
Comunicação carismática exige a criação de um “eu generativo”, um eu centrado, conectado com a sua verdade, capaz de despertar no outro o que de melhor há nele. É um “eu” criativo e inovador, que se reconhece através de um processo crescente de envolvimento e paz interior.
Obriga ao alinhamento de três inteligências:
- A inteligência cognitiva (o espírito lógico, analítico, os mapas mentais com as suas representações, significados, sequências);
- A inteligência somática (estado de alerta para o que o corpo diz, para as mensagens do cérebro entérico – estômago e intestinos – e consciência das emoções);
- A inteligência do campo (a conexão ao exterior, nível de consciência do que se passa no campo e a sua ressonância no campo, quer dizer, uma consciência cada vez maior da experiência relacional).
O alinhamento tem como fim o trabalho em conjunto das três inteligências, para realizar “a melhor versão de nós”, conectados à nossa visão e missão.
Na prática, um programa para desenvolvimento da “comunicação carismática” abrange um treino intensivo em que são abordados e treinados, entre outros, os seguintes aspetos:
- Centrar-se (processo básico da tomada de consciência total de si e do seu centro somático ou eu cinestésico);
- Descobrir-se (encontrar a sua missão no quadro da visão, definir a sua ambição pessoal e o papel concreto a desempenhar para realizar a sua missão no mundo);
- Desenvolver e auto gerir o “dom” (os seus recursos pessoais que correspondem à melhor versão de si mesmo);

- Comunicar com carisma (usando as três inteligências e sensível à ressonância da sua comunicação no campo);
- Lidar com “demónios” (com os obstáculos interiores e exteriores, e criar uma proteção para a vulnerabilidade que pode surgir em sociedade quando se é genuinamente puro e verdadeiro);
- Sponsorizar-se e sponsorizar outros apoiando-se no processo de auto desenvolvimento contínuo através, por exemplo, da internalização das 3 conexões positivas
- Estado COACH;
- Propósito e realização da missão;
- Recursos naturais, inatos ou frutos da experiência, eventualmente com o “apoio nas costas” de guias e arquétipos;
Ancoragem para a vida (consolidação e lançamento de um programa para auto desenvolvimento contínuo).
A liderança generativa
Um programa para desenvolvimento de competências carismáticas poderia ser dado como programa básico para qualquer liderança generativa. Um verdadeiro líder é inovador, inspirador e carismático. Doutra forma, é simplesmente um gestor burocrático. O seu carisma é a expressão do seu desejo profundo de deixar algo de bom no mundo. Influencia e encoraja para despertar nos outros toda a potencialidade latente. Ajuda a criar autonomia, ao mesmo tempo que estimula o uso da potencialidade desperta num trabalho generativo de equipa.
O líder é, ele mesmo, um exemplo para aquilo que apregoa e está empenhado num processo de autoconhecimento e auto desenvolvimento contínuo.
Para definir o trabalho do líder, já tenho encontrado diversas vezes, na literatura profissional à volta do assunto, a metáfora do ganso. É uma metáfora excelente para definir também os perigos do seguimento cego da autoridade.
Mas para esta ocasião serve.
O ganso caminha à frente da sua ninhada. É o primeiro do grupo e, como primeiro que é, corre mais riscos. Os outros seguem-no inspirados. Possui três características essenciais:
– Tem uma visão, avança como uma flecha para o seu objetivo;
– Influencia, é o primeiro e é determinante para a direção do resto do grupo;
– Serve de exemplo, definindo o ritmo da marcha.
Escusado será falar aqui do seu grau de responsabilidade social, quer dizer, a sua responsabilidade em relação ao futuro do mundo dos novos gansos.
Uma pergunta crucial sobre liderança parece- me ser esta: para quem é que o líder faz o que faz? Para satisfazer o seu ego ou para contribuir para o crescimento e desenvolvimento do outro? O conceito de serviço é familiar ao conceito de liderança. Há mesmo uma corrente dentro da liderança que acentua o papel do líder como servidor (Robert Greenleaf, James Hunter).
A liderança começa por auto liderança

Auto liderança é, em primeiro lugar, no meu entender, o contrário da destabilização pelo mundo exterior; é o contrário a deixar-se levar por rumores externos, julgamentos, pressões. Auto liderança é escutar a voz interior por detrás da internalização dos valores e crenças socialmente corretos que nos foram socialmente impostos e que integrámos no nosso processo de socialização e que correspondem à crise e injustiça da sociedade mundial atual em que uns vivem descarada e legalmente à custa da exploração de outros.
Só quando atingirmos o nível adulto de crescimento em que atuamos a partir do que sentimos subjetivamente como a nossa “alma” (centro, conexão à comunidade e ao cosmos, verdade, eu superior, ou que nome lhe queiram dar, e que é o contrário da auto ambição do ego), com coragem e apesar dos nossos medos, e estivermos em estado de assumir a vulnerabilidade a que estamos expostos quando somos verdadeiros, sem medos e seguindo o nosso próprio caminho humanizado e socialmente universalizado e desejável, só então poderemos manifestar “a nossa Luz” como líderes, tal como pronunciou Nelson Mandela no seu discurso inaugural quando citou o poema de Marianne Williamson.
Há uma grande diferença entre gestão e liderança
Os níveis neurológicos de comunicação em PNL dão-nos uma compreensão e orientação precisas para o trabalho à volta da gestão e liderança em empresas. Uma empresa que seja totalmente destituída de visão comunitária e planetária é egocêntrica. Ajoelhada, ela contempla o seu próprio umbigo. Está concentrada no seu próprio benefício e ambição, e o seu único foco é o controlo. Não tem como objetivo o direcionamento a clientes (mesmo que possa fazer menção disso), mas sim a satisfação dos seus acionistas.
Está virada sobre si mesma e para o papel a jogar neste quadro (identidade), voltada para o que é ou não permitido (arreigada a valores e crenças), movida por estratégias intelectuais (capacidades), reage de forma automatizada (comportamento) e vê o mundo como ameaças e perigos (meio ambiente). É uma empresa em estado Crash, com todas as condições para criar stress nos seus colaboradores e que, no seu anseio de repetir estratégias bem sucedidas no passado, não está em estado de enfrentar os desafios do futuro. É uma empresa dominada por managers burocráticos, incapaz de responder à constante e inevitável transformação generativa da situação planetária. Forçosamente, está destinada ao fracasso, embora possa, durante ainda alguns tempos, encher os bolsos dos acionistas.
Por outro lado, a empresa que está conectada a um sistema comunitário e planetário sente-se como prestando um serviço à humanidade, contribuindo para um mundo melhor. Em termos de Robert Dilts, é uma empresa de 3.ª geração, uma empresa “acordada” e ao serviço dos seus clientes. Possui uma visão (espiritualidade), tem uma missão (identidade), tem altos motivos (valores e crenças), age com energia e inteligência emocional (capacidades). É proativa (comportamento) e vê o mundo à sua volta como um campo de oportunidades (mundo exterior). Nestas empresas, há necessidade de uma liderança carismática, quer dizer, generativa, visionária e empreendedora.
O verdadeiro líder carismático está empenhado em dar sentido ao que faz e em realizar um significado ainda maior que se enquadre num propósito comunitário de que todos, sem exceção, possam usufruir. É esse o significado do mito arquétipo chamado “A Viagem do Herói”, descrito através de todas as culturas e que nós utilizamos em alguns dos nossos programas à volta da comunicação generativa. É uma viagem humana, motivacional, inovadora.
O ponto de partida nessa viagem é a nossa “aldeia” interior, a zona de conforto. Todos nós, mais tarde ou mais cedo, sentimos um “apelo” interior que nos interroga sobre o valor do que andamos a fazer na vida e nos chama para novas aventuras, o que significa, ao mesmo tempo, o confronto com o desconhecido: sair das teias de aranha da nossa aldeia mental. Podemos aceitar ou, na maioria dos casos, recusar o apelo, o que nos condena a viver o resto da vida, apesar de todas as compensações que a sociedade de consumo possa oferecer, acompanhados por uma sensação de vazio e mentira.
Se escutarmos o apelo e o seguirmos, engajamo-nos num processo de inovação, o que significa um trajeto desconhecido e nada fácil, povoado de medos, dúvidas, situações desconfortáveis, mas, ao mesmo tempo, sentindo-nos mais vitais, mais verdadeiros, embrenhados numa aventura de possibilidades infinitas.
É este trajeto que fundamenta todos os cursos de PNL que damos (PNL-Portugal) e que, no meu entender, nos levará a descobrir e compreender o nosso papel de líderes no mundo e marcará a diferença para as gerações futuras. Então, possivelmente, soar-nos-ão, vindas dos mundos interiores da nossa verdade, as palavras de Martin Luther King… deixaremos filhos, netos e bisnetos, que se orgulharão de nós e continuarão o trajeto de edificação em que todos os habitantes da terra, de mãos dadas, possam edificar um monumento universal em que todos, mas todos sem exceção, poderão sentir dentro de si a melodia cósmica da paz, da bondade, da plenitude interior.

É que, penso eu, só há dois caminhos, tanto individualmente, como para as empresas e outras organizações, e para o país ou comunidade global: ou “crash” ou “coach”.
A liderança, no fundo, resume-se a quatro competências carismáticas básica muito simples. Precisamente devido à dificuldade da sua simplicidade, desenvolveram-se diversos cursos universitários brilhantes que, segundo alguns, resultam em obscurecer precisamente aquilo de que se trata:
- Realizar uma missão inspiradora, que é a expressão da sua visão sobre a comunidade global onde todos têm direito, sem exceção, a satisfazer as suas necessidades materiais e a serem felizes;
- Inspirar os outros para realizar, dentro desse quadro e adaptado às condições particulares da organização, resultados de excelência no serviço da humanidade;
- Encorajar e criar equipas altamente cooperativas e capazes de gerir inovação que torne um mundo equilibrado ecologicamente e a vida mais rica de que todos os habitantes, sem exceção se orgulharão;
- Ela própria, a liderança, ser um exemplo, tal como Gandhi dizia: “Devemos ser o exemplo daquilo que queremos ver realizado no mundo.”
Ter uma visão é um mergulho na vida
Ter uma visão não significa conhecer o detalhe, mas sim mergulhar dentro
de si e conhecer intuitivamente a direção, tal como Steve Jobs ou Walt Disney não conheciam o resultado em pormenor. É mais uma intuição experimentada dentro do nosso ser profundo, liberta de teorias passadas, obsoletas. A visão do futuro, apoiada pela motivação de contribuição a um novo mundo a que todos se orgulhem de pertencer, deve ser vista, sentida e compreendida no sentido de uma metáfora que ativa a dimensão emocional e gera uma energia capaz de transformar as forças mais conservadoras.
É esta visão que me parece que o líder terá de partilhar e estar em estado de saber engajar os colaboradores à sua volta para o acompanharem na missão de realização, fazendo despertar neles a energia, a inspiração e a motivação para a realização do futuro da organização ou do país, com um pleno sentido de responsabilidade ecológica. É que esta energia tem sido grandemente explorada por figuras com egos descomunais, que sacrificaram e sacrificam milhares de vidas para satisfazer as suas ambições “egóicas”, empregando-se aqui um conceito utilizado por Eckhart Tolle (1948-).
O líder agrega a equipa, unifica-a e inspira-a, tendo, para isso, de dominar competências comunicacionais que facilitem a cooperação generativa, uma cooperação capaz de criatividade, inovação e realização do inédito. Ele está consciente e atento ao facto de que um mais um não são dois, mas que, em cooperação generativa, um mais um são três, tal como a água é mais do que a combinação de oxigénio e hidrogénio.
No fundo, o mais importante nem sequer são as competências. O importante não é o que se “tem” à nossa disposição e que todos podem adquirir no mercado. O importante é o estado de “SER”. Não é importante o “TER” conhecimento e as habilidades daquilo que já se sabe (que é geralmente manifesto em diplomas e certificados como expressão do velho e dogmático, e que corresponde a 20 valores nas universidades da velhice, no download de padrões rotineiros de pensamentos e ações. (C. Otto Scharmer)). É o “fracasso institucional generalizado”, como diz Otto Scharmer. Isso é geralmente o desatualizado, é o que vemos à nossa volta e que contribuiu para o estado paralisado, caótico e desumanizado do mundo em que vivemos. No meio desta crise planetária, o importante é encontrar a ligação com o que se experimenta subjetivamente como sendo verdadeiramente nós, o nosso coração, a nossa intuição, a nossa responsabilidade ecológica, o amor, a empatia planetária…
Um grande inspirador em PNL foi Milton Erickson que em todas as suas terapias ajudava os seus clientes a libertarem-se do espírito cognitivo lógico que criou toda a espécie de problemas para se relacionarem, segundo ele, com o seu inconsciente criativo e verdadeiro, a fim de verem um novo futuro de possibilidades infinitas em que se pudessem sentir verdadeiramente eles mesmos.

Um verdadeiro líder
Resumindo e como Dilts formula e repete nos seus cursos:
– Um verdadeiro Líder, Coach, Trainer, deve aprender, primeiramente, a gerir o seu estado interno para aceder ao seu dom pessoal, aos seus recursos mais criativos, inovadores e relevantes para a comunidade, ao seu carisma pessoal, à melhor versão de si mesmo. Para isso, necessita, primordialmente, de grande coragem, pois isso vai exigir um estado de “não saber nada” do que aprendeu e conectar-se a algo que vai para além do seu ego e dos seus próprios medos.

O maior medo e o mais profundo de todos os medos é o medo de sermos verdadeiros. Ser verdadeiro é mostrar a nossa “Luz”, a nossa potencialidade, o nosso dom único, o significado pelo qual estamos no mundo. Muitos têm pago com a própria vida pela coragem que tiveram em ser verdadeiros.
PNL ensina originalmente que não existe Verdade, que existem unicamente interpretações do mundo, as quais, por sua vez, determinam subjetivamente o que é para cada um a Verdade. É uma crença útil para nos apoiar numa comunicação funcional e para relativizarmos as nossas teias de aranha mentais que tomamos como Verdades.
Mas, para além de todas as construções cognitivas, existe um “apelo”, algo que podemos escutar quando somos honestos connosco. Algo que nos mostra o estado de injustiça no mundo e os enredos sociais em que fomos apanhados muitas vezes para realizar os objetivos dos outros. Algo que nos chama a conectarmo-nos e a realizar o nosso dom único, o nosso carisma, a nossa razão de estar no mundo.
Sejamos verdadeiros líderes!
Despertemos o carisma em nós.
Bem hajam, citando Dilts, na contribuição para “a construção de um mundo a que os nossos netos, bisnetos… se orgulhem de pertencer”!
José Figueira
“Liderança carismática”, do livro “Descobrir a PNL” 2015 (artigo revisto, 2021)