Poderíamos dizer, como nos sugere Joseph Campbell (1904-1987), o célebre autor de “O Herói de Mil Faces”, o grande investigador no campo da religião e mitologia comparada, que a vida pode ser vivida de três formas distintas:
- A primeira corresponde ao ideal do Ego, a vida convencional considerada “normal” em que somos chamados a viver a vida dos outros e copiar os valores da sociedade tradicional da família feliz, o sucesso na escola, certificados e diplomas, carreira, dinheiro, estatuto, uma vida sobretudo caracterizada pela reprodução da rotina. É a vida de “aldeola”.
- Muitos não se adaptam a este tipo de vida e rejeitam-na como superficial ou são rejeitados por ela, seja devido à cor da pele, orientação sexual, religião, baixo valor socioeconómico, ou até mesmo pura e simplesmente por se ser mulher. É uma vida que constitui uma alternativa aos ideais do ego e da sociedade tradicional e é, às vezes, designada como o mundo da “sombra”, o “deserto” ou “terreno vago” ou “exílio”, em que muitas vezes o cinismo, a apatia e a agressividade se manifesta na droga, na criminalidade, no fundamentalismo, no ódio ou no desespero.
- A terceira via, integrando e transcendendo as dualidades características do mundo convencional que nos rodeia, é a “viagem”. O processo começa com aquilo que Joseph Campbell denomina o “apelo”, uma espécie de despertar do piloto automático causado pelo transe negativo inconsciente em que vivemos feito de problemas de saúde, relações frustradas, ansiedade, sensações de vazio e depressão, sentido de falta de significado. Poderíamos comparar o caminho do despertar e passagem à ação no mundo com o que é facilitado pelo Coaching Generativo em “A Viagem do Herói” em que escutamos e respondemos a uma chamada subjetiva apelando-nos à realização do nosso propósito de vida e não do propósito dos outros.
Tanto a vida de aldeola como o exílio, onde para sobrevivermos regularmente somos obrigados a vender a nossa alma ao diabo e às suas características desumanas de guerra, corrupção, desrespeito, fundamentalismos e exploração, aumentam extraordinariamente as possibilidades da manifestação do que chamamos estados CRASH. Quanto maior for a distância entre as atividades e vivências de uma pessoa no seu processo de sobrevivência socioeconómica e a intuição do seu propósito de vida não realizado, maiores os sinais de incongruência e maior será o CRASH.
É uma vida de tensão, stress, não há inspiração e reagimos automaticamente ao mundo repetindo mais do mesmo. É para muita gente, fora e dentro das organizações, o seu estado mais comum levando à diminuição da produtividade, agravamento da saúde e destruição sistemática do bem-estar pessoal.
As principais características de tal estado, segundo Robert Dilts e Stephen Gilligan, são:
C ontraction (Contração neuromuscular e aparecimento de sintomas psicossomáticos como resultado de um estado de alerta perante os perigos e ameaças do mundo);
R eaction (Reatividade repetitiva característica do funcionamento em piloto automático: luta, fuga, paralisação ou resignação);
A nalysis (Análise cognitiva característica de uma cabeça sem ligação ao corpo);
S eparation (Sentido de separação caracterizada por lutas entre conflitos internos e isolamento);
H urt (Dor, ferida, sofrimento, ofensa, vazio, falta de significado no que se faz…).
O oposto é o estado COACH. As características atribuídas a um estado de COACH são:
C entered (É um estado centrado, ligado ao nosso corpo, às nossas raízes e à nossa inteligência somática, ao chamado “cérebro entérico”, à barriga e à terra);
O pen (Significa abertura ao outro e ao mundo, sentindo o “cérebro cardíaco” situado no coração. Tanto o cérebro cardíaco como o entérico têm merecido nos últimos anos especial atenção por parte das neurociências);
A ttending with Awareness (Estado de alerta, consciente, desperto e liberto de apegos a crenças e valores, livre de preconceitos e julgamentos redutores);
C onnected (Conectado às nossas três inteligências, a “cognitiva”, a “somática” e a “relacional”. Esta última refere-se à inteligência que nos liga ao todo maior e que é designada como “campo”);
H olding (Refere-se à hospitalidade, uma espécie de trabalho mágico que consiste em acolher e abraçar e transformar de forma humana, criativa e inovativa, tudo o que possa surgir dentro e fora de nós. Este “tudo” inclui aqui o que consideramos negativo e de que, quantas vezes sem sucesso, nos queremos livrar).