“O labirinto leva-nos a uma viagem muito especial. Qualquer que seja a nossa dúvida, oferece-nos a possibilidade de encontrar uma resposta. E, mais importante ainda, é uma viagem interior que nos leva a casa sem nos perdermos pelo caminho”.

O que é
Ao contrário do “dédalo” que é uma rede complicada de caminhos com becos sem saída (representada na mitologia grega pela história de Teseu que matou o Minotauro e, com a ajuda de Ariadne, escapou do labirinto construído pelo arquiteto Dédalo para o rei de Creta), o “labirinto” tem uma pista única que nos leva inevitavelmente a um centro. Pode, por exemplo, ser demarcado no terreno com pedras, desenhado na relva ou na areia para ser percorrido caminhando, mas também de pequeno tamanho em madeira, cerâmica ou outro material, neste caso para ser percorrido com o dedo.
Multiplas facetas
Pelo mundo, podemos encontrar labirintos permanentes em jardins privados, clubes, igrejas ou outros templos, hospitais, praças e jardins públicos, prisões e escolas e, para um uso mais flexível, desenhado em telas portáteis.
Pode ter diversas formas das quais se distinguem, geralmente como principais, o modelo clássico de origens imemorial, o modelo medieval cujo expoente principal se encontra na catedral de Chartres e um modelo que, ao contrário dos outros em que o caminho de ida é o mesmo que o caminho de volta, tem duas saídas e é usado para procissões e outras cerimónias.

A história
A sua história é muito longa. Encontramo-lo em manuscritos hindus e budistas, em desenhos em Java, Nepal e Afeganistão, Índia, em esculturas rupestres na Galícia, em tábuas babilónicas, num vaso etrusco, em mosaicos do período Romano, no Novo México e no Arizona, no povo nativo americano Tohono O’odham, nas costas da Escandinávia, etc. Podemos falar do Labirinto como um arquétipo, forma circular, espiralada, por vezes na forma de um quadrado, símbolo universal que faz parte do inconsciente coletivo. Não é propriedade de qualquer cultura ou credo.
A utilidade
Não conhecemos o seu uso na antiguidade mas é provável que tenha sido usado para fins cerimoniais, às vezes como locais de encontro. São avançadas, por vezes, significados mais esotéricos, tais como sendo o labirinto um campo de dança representando o ventre da mãe com o cordão umbilical da ligação à terra. Na Idade Média serviam como alternativa para a peregrinação a Jerusalém.
Hoje em dia, o seu uso, individualmente ou em grupo, está generalizado e os objetivos são muito diversificados. Usa-se para autodescoberta, meditação, oração e reflexão, para rituais, cerimónias e celebrações, como fonte de inspiração, reconciliação e resolução de conflitos, para encontrar respostas ou simplesmente relaxar…
Os requisitos
O Labirinto é um lugar seguro, “um voltar a casa”, uma forma excelente para se abrir e criar uma relação profunda com o inconsciente. Não existe uma forma correta de andar em um labirinto nem há experiências semelhantes. Cada um tem a sua. Cada caminhada acontece como se fosse a primeira vez. Nenhuma qualificação é necessária. Importante é cultivar a atitude adequada composta de uma predisposição para ir caminhar, predisposição para pôr de lado expectativas que se podem interpor entre si e o labirinto, predisposição para ir à descoberta, predisposição para se deixar guiar pelo campo de energia do labirinto e, finalmente, predisposição para aceitar tudo o que possa emergir.
Eu e o labirinto
Noite de lua cheia em Amesterdão

Há cerca de uns 20 anos atrás, numa noite amena e tranquila, sentado numa esplanada em Amesterdão com uns copos de cerveja na minha frente, presenciei atónito durante duas a três horas uma cena que, para mim nessa altura, me pareceu altamente insólita.
Por voltas das 10, nessa noite de lua cheia, um indivíduo traça a giz, no meio da praça, aquilo que me pareceram círculos concêntricos. Depois disso caminhou às voltas, de trás para a frente e de frente para trás, por cima do que tinha desenhado.
E não ficou por aqui. Durante as horas que se seguiram vinha chegando gente que fazia um percurso idêntico no círculo. Uns ficavam conversando um pouco e outros seguiam logo naturalmente o seu caminho. Bruxaria, ou qualquer coisa parecida, em plena Amesterdão?
O incompreensível para mim era também que tanto os “bruxos” e as “bruxas”, como os holandeses que estavam sentados no terraço ao meu lado, assim como os passantes, reagiam como se isto fosse o acontecimento mais natural do dia-a-dia. Coisas só dos Países Baixos, pensei.
Anos passaram e nunca mais pensei nisso.
A minha primeira experiência

Em 2011, num centro de formação e desenvolvimento pessoal nos arredores de Mafra, ao fazer um passeio semelhante num caminho desenhado no chão com pedras a que chamavam de “Labirinto”, percebi o que os holandeses faziam naquela noite do meu passado. O processo, como me orientaram naquela noite, também uma noite de lua cheia, é simples:
“Estabeleça um objetivo, faça uma pergunta, tenha uma intenção ou coloque um problema, e faça o trajeto no labirinto, com atenção plena no movimento, seguindo a sua intuição até chegar ao centro, que representa aqui o seu “centro” pessoal. Pare então e deixe que surjam naturalmente em si respostas na forma de imagens, sons, palavras, sensações no corpo. Não tente compreender grande coisa, deixe-se envolver naquilo que surgir. Depois, levando essa sensação consigo, faça todo o trajeto de volta”.

O despertar do meu interesse
Na altura, não causou grande impacto em mim. Soava-me muito a esoterismo e new age e luas cheias, o que se não dava lá muito bem com a minha necessidade pessoal de alguns fundamentos mais racionais. Esqueci naturalmente esses acontecimentos.
Só há uns tempos atrás me dei conta, ao pesquisar outros assuntos de meu interessa na internet, que o Labirinto de pista única é universal e de todos os tempos. Hoje é uma prática que encontramos em todo o mundo, tanto em jardins particulares e parques públicos, como escolas, prisões, hospitais e igrejas.
Há medida que estudava e experimentava o que era caminhar no labirinto que eu próprio construí no meu terreno livre, mais me apaixonava pelas inúmeras possibilidades que se abriam neste espaço que passei intimamente a considerar de “sagrado”.
Mais me espantei ainda quando me apercebi de que o Labirinto de pista única é praticamente desconhecido em Portugal. Os únicos labirintos conhecidos são os que possuem diversas pistas sem saída constituindo charadas e tendo como objetivo um passatempo.
Tal como quando me apaixono por qualquer coisa sinto uma necessidade grande de partilhar, assim vai ser com o Labirinto. Nos próximos tempos quem quiser experimentar, aprofundar e tornar-se facilitador ou utilizar o Labirinto nas suas sessões de coaching, é bem-vindo.
J. F.