A palavra Tao significa em chinês “caminho” ou qualquer coisa como método correto. Refere-se ao princípio de ordem e harmonia imanente em todas as coisas, ao mesmo tempo que orienta todos os processos na natureza desde que este processo não seja contrariado. Este processo natural que flui de forma absolutamente desinteressada inclui, claro, o ser humano.
Tao não pode ser traduzido por palavras, não é uma coisa, não tem consciência, não age no sentido normal do termo, mas todos os processos na natureza, surgidos espontaneamente a partir de Tao (não confundir com um deus criador), estão de tal forma programados que decorrem espontaneamente, por si mesmo (ziran), independentes da vontade e de forma inconsciente (wu wei), e num processo perfeito de transformação contínua a que não há volta a dar.
O ser humano, tanto individualmente como coletivamente, só tem de aceitar e adaptar-se ao processo de transformação contínua a que está inevitavelmente sujeito. Deve dar individualmente seguimento aos seus impulsos naturais, livre de qualquer ambição, e desistir da pretensão de qualquer comportamento consciente, assim como um governante não se deve imiscuir no processo natural das coisas e adotar sim uma atitude de laissez-faire reduzindo regras e procedimento ao mínimo dos mínimos.
Transcender o mundo dos fenómenos e experienciar Tao parece estar unicamente reservado aos sábios deste mundo. Os mais conhecidos trabalhos relativos a Tao devem-se a Lao-Tse, considerada a principal figura do Taoismo, contemporâneo de Confúcio, e Zhuãngzî (ou Mestre Zhuãng).
Desalentado com o caos reinante, Lao-Tse decide deixar o seu emprego e partir na direção do isolamento montado num búfalo quando o guarda às portas da cidade lhe pediu para que escrevesse toda a sua sabedoria, o que resultou num pequeno livro de filosofia traduzido em forma de poema, o Tao-te-tjing ( ou Dàodéjing).
Contra a mentalidade formalista e tacanha de Confúcio, Lao-Tse, de que se conta ter nascido como um velho de cabelos brancos e se ter tornado cada vez mais jovem com o decorrer dos seus 300 anos, defende um regresso a algo essencial sem artificialidades. De forma provocativa ele apela à abolição da Santidade, à rejeição da Sabedoria, do Humanismo, do Direito, da Artificialidade, da sede de ganhos. Então, diz ele, não haverá mais bandidos nem ladrões.
O fim é a reunificação com Tao, o invisível, sem começo nem fim, sem tempo nem espaço, mas apesar disso sempre ativo na não-ação (wu-wei). Essa reunificação pode ser conseguida através da atenção constante ao dinâmico principio de interação do Yin (passividade) e do Yang (atividade) muitas vezes em desequilíbrio. Tao trata sempre restabelecer o equilíbrio. Como exemplo, alguém que trabalha excessivamente acaba por rebentar física e psiquicamente e é obrigado a pausar. Só resta pois não lutar, mas juntar-se à onda de Tao, como na conhecida metáfora do homem a afogar-se na queda de água e que se salva por deixar-se levar pelo cone espiralado do movimento da água que o traz, sem esforço, à superfície.
Outra metáfora é a da madeira não trabalhada: a criação de uma estátua cria um objeto de arte mas impede todas as outras possibilidades latentes do bloco de madeira. E se no bloco não é possível voltar às infinitas possibilidades, com ser humano é possível voltar à criança. Quanto mais se forçam as coisas, maiores são as dificuldades. A aceitação da natureza das coisas traz a harmonia.
Enqunto Lao-Tse expressa a sua filosofia em 81 poemas, Zhuãngzî (370-290 AC) expressa-se em histórias ricas de fantasia e muitas vezes humorísticas com o fim de destruir os quadros de pensamento tradicional. Uma árvore feia, toda torcida e que ninguém dá nada por ela, enorme e sem utilidade, nenhum carpinteiro se lembraria de a cortar, tem muito mais possibilidades de se livrar do machado do lenhador.
O ser humano encontra-se encurralado nas suas próprias fixações: correto e não correto, ganho e perca, bom e mau, útil e inútil. Desta forma torna-se impossível viver de forma espontânea, libertadora e satisfatória, vaguear pelo mundo livre e feliz.
O Taoísmo aparece na China num período de guerras entre estados (403-221 AC) e de grande instabilidade política onde as classes dirigentes tinham criado um complicado sistema de crescentes regras, um confucionismo ritualista cada vez mais burocrático sedento de leis, envolto em ambição e jogos de poder entre estados, tentando criar noções de justiça, noções de humanidade e, sobretudo, desejando que os cidadãos se distingam em “virtude”. É contra este estado de coisas que os taoistas se opõem de forma polémica e provocativa considerando como hipócritas as pretensões dos governantes e criando uma filosofia que apela a um ideal anarquista feito de pequenos núcleos, livre de uma cultura totalmente artificial, habilidades académicas e rituais coercivos. O mundo não precisa ser organizado e aperfeiçoado, é já perfeito como ele é.
O Taoismo, que se tem mantido desde o século 5º DC até aos nossos dias, representa o elemento artístico dentro da cultura chinesa tradicional e protegeu-a até de uma total “confucionalização”. Tao, com o seu caráter místico, é uma fonte de inspiração, uma harmoniosa ligação à natureza, um berço para poetas e pintores. Até burocratas do sistema chinês adotaram e adotam o Taoismo no período da reforma.
A influência do Taoísmo continua visível. Técnicas como Chi Cong, Tai Chi e Feng Chui, surgiram do Taoísmo e têm como fim a harmonização com a energia da vida (Qi ou Chi).
Oosterse filosofie, Michel Dijkstra
Oosterse filosofie vijf levensbeschouwingen, Marc Brookhuis
De verbeelding van het denken, Jan Bor e Errit Petersma
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The Path; What Chinese Pilosgphers Can Teach Us About the Good Life